Ednéia Soares aspira à profissão de atriz, mora sozinha e não passa uma semana sem ir ao esteticista para fazer novas “plásticas” que a deixe mais parecida com a princesa de Guaratí, personagem de uma peça teatral que ela protagonizará. É minha vizinha do apartamento 503, para encontra-la, basta pegar o elevador às 16 horas e lá está ela com sua boca Angelina Jolie, esboçando um longo sorriso e, quando paramos em nosso andar, despede-se com a promessa de uma visita quando arranjar tempo em sua agenda.
No 505 mora o Ricardo, um rapaz tranqüilo e aparentemente determinado a passar no concurso da Polícia Federal. Este, eu conheci na lavanderia do prédio com seus inseparáveis livros. Já o Tonhão, aposentado de 56 anos, possui uma coleção de 16 carros, mora no 507 e exibe uma corrente brilhosa de ouro no pescoço. Ele está sempre acompanhado por mulheres diferentes e quando pergunto sobre sua família, logo desconversa e se diz completo pelas conquistas e escolhas que fez.
Certa manhã, eu tomei coragem e resolvi caminhar um pouco na pracinha. Quando abria a porta do meu apartamento a Ednéia gritou do corredor: “segura o elevador pra mim aí fia”, tomei um choque, pensei: “Como pode, será que ela não sabe o meu nome?”.
Quando o elevador chegou, fiquei surpresa ao ver que o Ricardo ( sem livros ) e o Tonhão ( sem mulheres ) conversavam de maneira íntima, Fingi que estava tudo normal e interpelei se eles se incomodavam de esperar um pouco, recebi um duplo sonoro, “claro que não”, com tom de agradecimento, eu heim, e eles continuaram conversando como se eu não estivesse ali. Após um minuto e meio A Ednéia veio.
Em seguida, apertei o botão do térreo, as portas fecharam-se, a energia acabou e o elevador parou. Tonhão pediu calma e acionou a emergência, Ricardo solicitou um abraço, Ednéia começou a gritar histérica, até então eu não sabia se ela estava interpretando ou se realmente tinha claustrofobia, e eu permaneci calada observando. Após estas primeiras reações, a conversa fluiu... Em cinco minutos a energia voltou e cada um seguiu seus caminhos.
É engraçado como em tão pouco tempo pode mudar toda impressão que temos de alguém. Está aí minha nova descrição dos meus vizinhos:
Ednéia – deve ter algum distúrbio, ela acha que realmente foi a princesa de sua peça em outra encarnação e vive em função de conseguir patrocínio para a realização de sua peça, naquela ocasião tentava sensibilizar o Tonhão para colaborar.
Ricardo – é sustentado pelos pais aos 32 anos e não pretende passar neste concurso para não perder as regalias, embora tenha que manter as aparências.
Tonhão – No fundo é um solitário que chegou até aquela idade em função dos bens materiais e agora tenta compensar o tempo perdido aproveitando as experiências diferentes, só não desvendei o mistério de sua família.
Mudei os conceitos que tinha sobre meus vizinhos em cinco minutos, mas fiquei refletindo, será que tipo de vizinha eu sou? Depois de escrever esse tanto de besteiras acho que faço parte do rol das vizinhas fofoqueiras!
Daianni Parreira
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