Duelo conceitual
Disputa para reitoria polariza idéias na UFT
Reportagem: Luiz Cláudio Santana Duarte
Graduado em Engenharia Agronômica, doutor em Agronomia–Fitotecnia/Genética e Melhoramentos de Plantas, ingressou na UFT em 2003, e atua como professor no Mestrado de Água e Energia, e no curso de Engenharia Ambiental.
O candidato recebeu a equipe de reportagem em sua sala, no bloco da reitoria, para falar sobre os planos que envolvem a campanha eleitoral no âmbito da UFT.
O professor falou porque resolveu concorrer ao cargo de reitor, e disse que se sente parte da construção da UFT. Disse também que em seu mandato a prioridade será a consolidação dos cursos que já existem, e que não existem negociações por apoio político em troca de cargos de pró-reitorias. Abaixo, a transcrição da entrevista:
1- Porque o senhor decidiu se candidatar ao cargo de reitor da Universidade Federal do Tocantins?
Márcio da Silveira - Fui parte efetiva e ativa da criação da UFT. Nesse trabalho na pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação, saímos apenas de um programa de mestrado para treze programas, três de doutorado, dobramos o número de cursos de graduação de 23 para 48, aumentamos em mais de 1000% na pós-graduação, e aumentamos também para 128 os grupos de pesquisas.
2- A idéia da candidatura veio do senhor, ou das bases aliadas?
Márcio da Silveira - No final de 2010, fui procurado por um grupo de alunos, depois por um grupo de professores e funcionários que sugeriram que meu nome seria bem-vindo nesse processo de sucessão. Conversei com o reitor Alan Barbiero, sondei com professores e funcionários de outros campi para saber das minhas chances, e realmente havia uma possibilidade de enfrentar o debate para continuar esse projeto. E agora, esperamos em janeiro homologar meu nome e da professora Isabel pra concorrer às eleições para reitor no mandato 2012/2017.
3- Como a sua chapa se posiciona politicamente nesta eleição, situação ou oposição à atual reitoria?
Márcio da Silveira - Jamais poderíamos ser oposição, pois somos parte da construção desta universidade, assumimos os problemas que ela tem, mais também assumimos as grandes conquistas que foram feitas. A UFT era uma Universidade que nem era conhecida, hoje é uma universidade robusta. Começamos a gestão com um orçamento de R$ 4 milhões de reais, hoje a UFT tem o quarto orçamento do Estado, de R$ 150 milhões.
4- Como você se sente encabeçando uma chapa que está a oito anos atuando na reitoria, você considera que isso é bom para universidade?
Márcio da Silveira – É bom. Nós precisamos continuar o que está dando certo. A universidade é paradoxal, é o lugar de pensar em algo que jamais alguém pensou, é o lugar do diálogo, do debate, da inovação, mas ao mesmo tempo é um lugar conservador. A comunidade sabe que mudanças muito bruscas, nesse grande boing que é a UFT hoje, não seriam muito responsáveis. Cada coordenador de curso, cada diretor de campus, sabe que a manobra tem que ser responsável e calculada.
5- O senhor não teme ser considerado conservador?
Márcio da Silveira - Eu e a professora Isabel sabemos os limites da inovação, os limites do que pode ser feito. Temos que mudar para ter uma máquina com uma gestão mais moderna, mais eficiente, que possa atender melhor a comunidade, mas temos que preservar o que há de bom. Precisamos consolidar os cursos que aí estão, como por exemplo, a Comunicação Social. Temos que efetivar nossa rádio, construir os laboratórios. A inovação é importante, mas a continuidade também é importante.
6- O que o senhor considera que aconteceu de bom nessa gestão?
Márcio da Silveira - A UFT tinha 20 cursos, hoje tem 48. Tínhamos problemas de mestrado, tínhamos 13 bolsas para alunos de iniciação científica, hoje temos 496 alunos para iniciação científica. Esse projeto nós queremos continuar, é o que deu certo, agora existem muitas possibilidades de melhorias. Temos 300 doutores, 800 professores, 13 mil alunos. Hoje somos a terceira universidade da Amazônia Legal, ocupamos uma posição importante.
7- E de ruim?
Márcio da Silveira - Hoje sabemos que a UFT tem áreas muito desconectadas. Um aluno que faz pedagogia em Tocantinópolis, por exemplo, se precisar vir para Palmas, vai ter problemas com algumas disciplinas que não são aceitas no currículo, no mesmo curso. São coisas que precisamos corrigir. Os campi têm que estabelecer uma conversa. Numa primeira fase criamos a estrutura, agora podemos pensar em algo mais, podemos pensar em ousar. Temos que pensar na excelência, na construção do conhecimento de forma coletiva. Criar Institutos para tornar a UFT mais competitiva, com um corpo mais robusto.
8- O que o senhor acha que poderia ter sido feito e não foi, durante a gestão do professor Alan Barbiero, e que o senhor gostaria de fazer?
Márcio da Silveira - Acredito que agora entramos num momento mais profícuo, no sentido de condições materiais, para debater conceitualmente questões que não conseguimos fazer. Aglutinar as áreas do conhecimento, criando os institutos; melhorar e aperfeiçoar nossos procedimentos administrativos, que são às vezes lentos, por conta das amarras da lei federal que é muito rigorosa. São algumas das coisas que não fizemos e que podemos fazer.
9- De que forma os Conselhos participam dessa gestão?
Márcio da Silveira – Nossos conselhos na maioria dos casos atuaram como um grande gerente, autorizando afastamento de professores e contratações de vaga. Acho que essa parte administrativa tem que ser separada um pouco, ela é importante tem que continuar, mas tem que ser numa outra instância, precisamos abrir espaços nos conselhos para debater conceitualmente essa UFT que nós queremos. Deixar que os coordenadores discutam um pouco mais. Nós não tivemos muito tempo, em função dos graves problemas que tivemos que resolver.
10- Porque a escolha da professora Isabel Cristina Auler Pereira (Pró-reitora de graduação), como vice-reitora, na composição de sua chapa?
Márcio da Silveira – Vários critérios nos fizeram escolher. Não somente por uma questão de gênero, mas também levando isso em consideração. A mulher hoje tem um papel extremamente importante nas universidades, e no mundo de modo geral. Mas, a escolha da professora Isabel foi, sobretudo, pela sua competência, ela tem toda a graduação na palma da mão, os problemas, as possíveis soluções, e muita credibilidade com todos os coordenadores de cursos.
11- Não foi só para conquistar apoio feminino?
Márcio da Silveira - Precisávamos de alguém com experiência, credibilidade, competência e motivação. Não podemos pensar só em concorrer, se ganharmos precisamos estar preparados para resolver os grandes problemas da UFT. Hoje a universidade exige muito mais experiência, isso é imprescindível para continuar conduzindo e inclusive inovando e fazendo as mudanças que podem ser feitas.
12- O que o senhor pensa em fazer com relação à ampliação dos diversos Campi da UFT?
Márcio da Silveira - O Conselho Nacional de Educação diz que para ser um campus universitário é preciso ter cinco cursos de graduação e um programa de mestrado. Temos que seguir o que o conselho diz. Precisamos corrigir a simetria que existe dentro da UFT, consolidando o que está muito bom e usar a competência e experiência de nossos professores, de nossos técnicos administrativos, dos alunos em programa de mestrado, e repassar e distribuir essas experiências para outros campi, por exemplo, na criação de novos cursos.
13- O que o senhor pensa sobre a criação de novos cursos na UFT?
Márcio da Silveira - As prioridades são os cursos mais antigos, precisamos consolidá-los. Eu tenho defendido que precisamos de consultores, de fora da UFT, de fora do Tocantins, com um olhar diferente, com experiência diferente, descontaminado de paixões, que nos ajude a determinar quais os cursos mais importantes para o Estado, nos campi do interior do Tocantins. Fazer algo planejado, não algo na paixão. Algo decidido com base. Sabermos quanto temos no orçamento para criarmos um curso se temos profissionais com mestrado e doutorado para dar aulas nesses cursos. Palmas não deve ficar de fora da expansão, mas a prioridade são os campi do interior, para criar um equilíbrio melhor.
14- E sobre os laboratórios, como por exemplo, do curso de Comunicação Social, o que pensa em fazer?
Márcio da Silveira – O caso da Comunicação Social, já está definido no orçamento, temos só que acompanhar, aprimorar e dar mais energia, mais eficiência para que isso saia. Em minha opinião, isso já está licitado, encaminhado, é uma questão burocrática de acompanhar e conduzir o processo. Queremos esses laboratórios funcionando, queremos jornalistas de qualidade, e para isso precisamos de infra-estrutura. Essa é uma clareza que nós temos.
15- Tendo em vista que o orçamento da UFT é o quarto orçamento do Estado, como o senhor pensa em trabalhar de modo a evitar situações como a denuncia feita pelo MPF/TO sobre uma possível contratação ilícita de prestadora de serviços, realizada pela atual gestão?
Márcio da Silveira – Com relação a esse contrato, esse assunto já foi resolvido, não há nada mais pendente, inclusive todas as nossas contas já foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Nós temos um procurador a quem consultamos, é ele quem diz ao reitor o que ele pode ou não fazer. Quando nós incorremos no limite entre o que é possível ou não é possível, e aí está o exemplo de prestadoras de serviços, se não corremos determinados riscos, ficamos, por exemplo, sem funcionários para fazer a limpeza da universidade, em todos os sete campi. Quando chegamos nesse limite entre o que é possível e que pode gerar alguma dúvida, podem acontecer denúncias. Mas aí há justificativas, serviços emergenciais, serviços de limpeza, de segurança pública, até porque o reitor responde pelo patrimônio público da universidade, e aí a justificativa é plausível.
16- No governo federal é comum a doação de ministérios e cargos públicos em troca de apoio político dos mais diversos partidos aliados. Na busca de apoio, que antecede as eleições para a reitoria da UFT, existem negociações em busca de pró-reitorias?
Márcio da Silveira – Não. Existem às vezes especulações, colegas nos corredores, divagando sobre quem será pró- reitor, mas não existe nenhuma negociação sobre isso. Até porque seria prematuro, leviano, complexo e arriscado aos candidatos proporem isso. Não há, nesse momento, necessidade de se discutir pró-reitorias. O momento de pró-reitorias é à posteriori, depois que se ganha a eleição.
17- Nos últimos dias presenciamos situações bastante complexas em relação à prisão de universitários por uso de maconha em um dos Campus da USP, e de manifestações dos alunos contrários a presença da polícia nas Universidades. Qual a sua opinião com relação às duas situações?
Márcio da Silveira – É o resultado de um modelo político implantado de forma autoritária, reflexo de um modelo falido que a USP insiste em manter, de não ter diálogo. Acho que era uma questão simples de ser resolvida, uma questão de debate, de diálogo. Saber se queremos ou não segurança no Campus. A questão da maconha me parece ter mais como intenção colocar os alunos como drogados e irresponsáveis.
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